dezembro 13, 2017

A Idade Média nunca se esqueceu de que qualquer coisa seria absurda, se seu significado se limitasse a sua função imediata e a sua forma fenomênica, e que todas as coisas se difundem largamente no além. Esta ideia também nos é familiar, como sensação não formulada, quando, por exemplo, o barulho da chuva  nas folhas das árvores ou a luz da lâmpada sobre a mesa, numa hora tranquila, nos dá a percepção mais profunda do que a percepção cotidiana, que serve à atividade prática. Às vezes, ela pode aparecer na forma de uma opressão morbosa que nos faz ver as coisas como impregnadas de uma ameaça pessoal ou um mistério que se deveria e não se pode conhecer. Mais frequentemente, porém, nos encherá da certeza tranquila e confortante, que também nossa existência participa daquele sentido secreto do mundo.


Huizinga, O declínio da Idade Média

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