fevereiro 04, 2018

Le démon

Hugo trabalhava (em Guernesey) das 5 da manhã ao meio-dia. Trancava-se e defendia rigorosamente seu trabalho. Ao baterem em sua porta no dia em que seu filho morreu, pedindo-lhe para descer, recusou-se com violência a abandonar sua obra. A tarefa acabou, ele foi para perto de seu filho - mas seu filho estava morto. Esta coisa é muito trágica. Ouvi-a de Marcel Schwob. Contei-a porque ela mostra, em Hugo, um demômio do trabalho que o possuía desde a aurora até a metade do dia. Talvez a palavra "inumano" - mas talvez a palavra "sobre-humano" - conviria para qualificar esse traço. Seria iníquo convocar homens ordinários para julgá-lo. Para isto seria preciso um tribunal de grandes homens, Goethe seria presidente.


Valéry acerca de Victor Hugo